The Lancet lança especial sobre fórmulas lácteas infantis e a necessidade de um tratado internacional para restringir o marketing
As empresas de fórmulas infantis “patologizaram” o comportamento normal do bebê para promover seus produtos, e deveria haver “um tratado legal internacional” para restringir o marketing desses produto
No dia 7 de fevereiro a revista The Lancet lançou uma série sobre o marketing e lobby das empresas para promover suas fórmulas infantis, chegando a explorar “as emoções dos pais e manipulam informações científicas para gerar vendas às custas da saúde e dos direitos das famílias, mulheres e crianças”, argumentam os autores.
“A venda de fórmulas lácteas comerciais é uma indústria multibilionária que usa o lobby político juntamente com um manual de marketing sofisticado e altamente eficaz para transformar o cuidado e a preocupação dos pais e cuidadores em uma oportunidade de negócios. É hora de isso acabar”, diz o coautor da série, professor Nigel Rollins, do Departamento de Saúde Materna, Neonatal, Infantil e Adolescente da OMS.
As denúncias ocorrem mais de 40 anos depois que a Assembleia Mundial da Saúde adotou o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno em 1981 e tem sido insuficiente para impedir a manipulação de marketing.
Nestlé (Suíça), Danone (França), Reckitt (Reino Unido), Abbott (EUA), Friesland Campina (Holanda) e Feihe (China) dominam o mercado global e usam táticas semelhantes às do tabaco, álcool e ultra -indústrias de alimentos processados.
Segundo os artigos publicados, fórmulas especializadas estão sendo vendidas como “leites de conforto” para bebês famintos, para cólicas, alergias e para melhorar o sono – alegações que não têm comprovação científica e ainda lançam em suas peças publicitárias que as fórmulas podem “aumentar o desenvolvimento do cérebro e melhorar a inteligência” ou ainda que reforça a imunidade.
“Semelhante às empresas farmacêuticas, a indústria de Fórmulas Lácteas Comerciais patrocina organizações profissionais e suas conferências, reuniões e treinamentos, e publica anúncios e artigos patrocinados em revistas científicas”, observa a série.
“Assim, parece natural e aceitável que a empresa forneça materiais de apoio, patrocine a participação em reuniões científicas, financie conferências e outras necessidades. Essas atividades são apresentadas como colaborações profissionais e não como incentivos”, observa.
Os pesquisadores argumentam que a comercialização desses produtos não deveria ser permitida.
“É necessária uma convenção-quadro, colocando os direitos das crianças e das mulheres no centro, para proteger os pais e as comunidades da comercialização comercial de produtos alimentares para e para crianças com menos de três anos de idade (...) A estrutura restringiria o marketing, mas não a venda desses produtos”.